E A SEGURANÇA DO CIDADÃO,PAGADOR DE IMPOSTOS, ONDE ESTÁ?

E A SEGURANÇA DO CIDADÃO,PAGADOR DE IMPOSTOS, ONDE ESTÁ?
Pagando para ser protegido e tendo que enfrentar os bandidos!

sábado, 1 de junho de 2013

SOBRE O MATAR PARA SOBREVIVER; DEPOIMENTO NU E CRU DE UM OFICIAL DA PM-SP

Lourenço Martins - 'Não existe o prazer de matar'
LOURENÇO MARTINS, 54 ANOS



Coronel da PM, mata a serviço do Estado

Meu primeiro combate foi em 1974. Fui batizado numa troca de tiros. Tinha 25 anos e apenas quatro meses de polícia. Eu estava sentado próximo à janela e vi quando uns assaltantes executaram o guarda de um banco que ficava vizinho ao Batalhão. Descemos e houve uma troca de tiros. Dois bandidos morreram na hora, logo no primeiro confronto, quando ficamos cara a cara com eles. O aspirante que estava ao meu lado caiu atingido por uma bala na perna. Quando reagrupamos, partimos para cima deles e acabamos pegando todos. Deu um branco na minha cabeça. Eu nunca esperei presenciar um quadro daqueles. Quando tudo acabou me deu uma tremedeira. Parei para pensar que o tiro que atingiu o meu colega poderia ter me acertado, eu poderia ter morrido. Com o decorrer do tempo fui me acostumando com sangue, com as coisas trágicas. A tremedeira passou. É a mesma coisa do médico. Quando ele entra numa cirurgia, tem de ser frio. No dia-a-dia de um policial esse tipo de coisa se repete. E não é só a minha vida que está em risco. Tem a vida de outras pessoas. Em 1984, estava num cerco a uma favela. O Silvio Maldição (um bandido da época) estava com uma 9 milímetros na mão, quando um policial entrou no beco para rendê-lo. Eu, que estava numa laje logo acima, armado com uma 12, vi quando o bandido levantou o cão da arma. Atirei nele antes. Atirei para que um policial meu não morresse. Acertei a cabeça do bandido. Se mirasse no corpo, ele ainda poderia reagir. Procuro não me lembrar quantas pessoas já matei ou vi morrer. Eram pessoas que deveriam estar progredindo e que acabaram escolhendo o lado ruim. Mas o fato de estar dentro deste cotidiano da vida me fez ser uma pessoa muito fria na minha maneira de trabalhar. O policial militar tem de estar sempre atento, percebendo o que se passa nos 360 graus a sua volta. É policial 24 horas por dia. Há dois meses, decidi liberar meu motorista e fui para casa sozinho. Percebi que estava sendo seguido por três carros. Eram seis homens. Um dos carros me fechou e um dos bandidos saiu com uma arma na mão. Atirei de dentro do carro, pelo vidro. Ele caiu. Matei outros três e os outros dois fugiram. Ou eu os acertava ou eles me acertavam. Nunca feri uma criança, nunca baleei pessoas que nada tinham a ver com um crime. Para eu chegar a atirar em alguém é porque essa pessoa está atirando em mim. Não existe o prazer de matar, e sim a consciência do certo e do errado. Há muito tempo deixei a emoção de lado. Vivo pela razão. Para viver melhor, eu choro muito, corro e pratico esporte. É a minha forma de extravasar (nesse momento ele chora). É duro a gente perder um companheiro que passa dez, 15 anos do seu lado. Eu vivo para a polícia. Adoro o que faço. Para não machucar ninguém que amo, optei por nunca casar. Também não tenho filhos. Não quero jamais colocar em risco alguém que more comigo. Quem fez o juramento de defender com a vida a vida dos outros fui eu.

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