E A SEGURANÇA DO CIDADÃO,PAGADOR DE IMPOSTOS, ONDE ESTÁ?

E A SEGURANÇA DO CIDADÃO,PAGADOR DE IMPOSTOS, ONDE ESTÁ?
Pagando para ser protegido e tendo que enfrentar os bandidos!

terça-feira, 8 de julho de 2014

SE VOCÊ PENSA QUE TODO BANDIDO É BURRO E ANALFABETO, CONHEÇA A HISTÓRIA DESSE HOMEM QUE DEIXA ATÔNITO TODO O SISTEMA DE SEGURANÇA DE SÃO PAULO.




(Entrevista dada ao Jornal O GLOBO por "Marcola", o líder do PCC. 

- Você é do PCC?
- Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível... vocês nunca me olharam durante décadas... E antigamente era mole resolver o problema da miséria...
O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução que nunca vinha... Que fizeram? Nada.
O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas...
Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo... Nós somos o início tardio de vossa consciência social... Viu? Sou culto... Leio Dante na prisão...
- Mas... A solução seria...
- Solução? Não há mais solução, cara...
A própria ideia de "solução" já é um erro.
Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como?
Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma "tirania esclarecida", que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice
(Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC...) e do Judiciário, que impede punições.
Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até Conference Calls entre presídios...)
E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.
- Você não têm medo de morrer?
- Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar..
Mas eu posso mandar matar vocês lá fora... Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba... Estamos no centro do Insolúvel, mesmo...
Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. 

Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês.
A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala... Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós!
Ha, ha... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. 
Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante...
Mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. 
Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. 
Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. 
Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"?
Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, Internet, armas modernas.
É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.
- O que mudou nas periferias?
- Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda?
Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório... Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado?
Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no "microondas"... Ha, ha...
Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos.
Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados.
Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor.
Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais.
Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.
- Mas o que devemos fazer?


- Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? 
Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas... 
O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas.
O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, "Sobre a guerra". Não há perspectiva de êxito... Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas... A gente já tem até foguete antitanques... Se bobear, vão rolar uns Stingers aí... Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas... Aliás, a gente acaba arranjando também "umazinha", daquelas bombas sujas mesmo... Já pensou? Ipanema radioativa?
- Mas... não haveria solução?
- Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma.
Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco... na boa... na moral... Estamos todos no centro do Insolúvel. 
Só que nós vivemos dele e vocês... não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução.
Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema.

Como escreveu o divino Dante: *"Lasciate ogni speranza voi che entrate!" *Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno.


A HISTÓRIA DE MARCOLA E SEUS


LIDERADOS.

ASSIM AGE O PCC DE MARCOLA.


A estranha ascensão de Marcola
O criminoso derrubou antigos aliados e se tornou o líder máximo do PCC graças a uma informação que sua ex-mulher passou para a polícia
Solange Azevedo
PUNIÇÃO Marcola, 41 anos, passou mais da metade da vida na cadeia. Nesta semana, deve ser julgado pela morte do juiz Machado Dias
 A história do autoproclamado Primeiro Comando da Capital (PCC) - facção que domina os presídios paulistas e ordena crimes nas ruas já foi contada centenas de vezes em reportagens e livros. Uma informação valiosa sobre as sucessivas disputas internas da quadrilha, no entanto, até agora havia passado despercebida e estava condenada a empoeirar nos escaninhos da Justiça: foi Ana Maria Olivatto, ex-mulher e advogada de Marcos Willians Herbas Camacho - o poderoso "Marcola" -, quem forneceu o número do celular de César Augusto Roriz Silva, um dos fundadores do PCC, para a polícia grampear. Conhecido como "Cesinha", ele e outros importantes na hierarquia bandida tinham sido levados para cadeias fora de São Paulo. O ano era 2002. E o governo paulista acreditava que, com os líderes distantes, a facção morreria. Um engano. Espalhados pelo País, eles se associaram aos criminosos locais. Por telefone, continuaram comandando o PCC.

Quando Ana resolveu "ajudar", a polícia sabia muito pouco sobre a estrutura da facção. A megarrebelião que sacudiu 29 presídios no Estado, primeira demonstração pública de força do PCC, havia ocorrido no ano anterior. Desde então, uma porção de centrais telefônicas tinha sido descoberta e dezenas de bandidos ligados ao grupo jogados atrás das grades. Mas os investigadores ainda não haviam fechado o quebra-cabeça. Ao monitorar as conversas de Cesinha, as intrincadas relações entre os marginais e a cadeia de comando se tornaram claras. A fundamental contribuição da ex-mulher de Marcola foi revelada pelo delegado Ruy Ferraz Fontes durante uma audiência na 12ª Vara Criminal de São Paulo. O depoimento consta do processo em que Marcola e alguns de seus companheiros respondem por formação de quadrilha.





















RELACIONAMENTO Ana e Marcola ficaram juntos por 11 

anos. Quando morreu, ela ainda estava apaixonada.

RELACIONAMENTO 
Ana e Marcola ficaram juntos por 11 anos. Quando morreu, ela ainda estava apaixonada.
Cesinha foi grampeado quando estava preso em Bangu, no Rio de Janeiro. Dividia a cela com um detento de apelido "Chapolim", então braço direito do traficante Fernandinho Beira-Mar.
Foi ali que a associação entre o PCC e o Comando Vermelho vingou. Se de um lado Cesinha ganhou por ter firmado nova parceria no submundo, do outro caiu em desgraça porque virou um dos principais alvos da polícia.
Mas por que Ana o entregou? Primeiro ela se justificou dizendo que Cesinha a assediava, depois que fizera aquilo a pedido de Marcola. Interceptações telefônicas mostram que, naqueles tempos, Marcola andava ligando para o grupo de Fernandinho Beira-Mar para pedir, dinheiro emprestado. 
Estava com os bolsos vazios. Marcola teria traído o chefe Cesinha para lhe tomar o posto e se reerguer financeiramente? Qual das duas versões de Ana é a verdadeira?
A única pessoa capaz de dar essas respostas talvez seja o próprio Marcola. Ana foi abatida a tiros em outubro de 2002, na porta de sua casa, na região metropolitana de São Paulo. De acordo com a polícia, morreu por ordem de Aurinete Félix da Silva, mulher de Cesinha. A motivação do crime permanece obscura. 
O único fundador do PCC ainda vivo - José Márcio Felício, o "Geleião" - conta que Cesinha desconfiava que Ana estivesse passando informações da quadrilha para a Secretaria da Administração Penitenciária e mandou Aurinete encomendar o assassinato. 
Cesinha teria desistido da ideia, mas Aurinete não suspendeu a ordem porque Ana teria ameaçado contar a Cesinha que ela tinha um amante. Cesinha controlava a mulher com punhos de ferro. Ao menor deslize, a espancava.
O PCC vivia dias tensos. Cesinha e Geleião eram os principais líderes da facção, estavam isolados e só podiam contar com as mulheres para ditar as regras aos subordinados. Aurinete e Petronilha, fiel companheira de Geleião, criaram uma espécie de poder feminino e começaram a disputar o posto de primeira-dama.
As ordens de uma eram desautorizadas pela outra. 
Ana tentava se manter afastada dessa rivalidade. Já estava separada de Marcola, mas seguia aparando os problemas do ex-marido como advogada e ainda se dizia apaixonada. Quando foi assassinada, ela se preparava para um encontro com Geleião e Cesinha em que contaria as façanhas das patroas.



A SANGUE-FRIO O juiz-corregedor Machado Dias foi assassinado em 2003 a mando do PCC.

Com o assassinato de Ana, o PCC rachou. Cesinha foi expulso pelo envolvimento no homicídio e Geleião por tentar livrar Petronilha da prisão e diminuir a própria pena delatando nomes, estrutura e ações do grupo. Foram jurados de morte. Cesinha acabou executado, mas teria sido vítima de um suposto aliado. A dupla derrocada alçou Marcola ao posto mais alto da organização criminosa. Publicamente, no entanto, ele afirma não pertencer ao PCC. "Marcola é de uma periculosidade poucas vezes vista", diz o promotor de Justiça Carlos Talarico. "Com ele na liderança, em pouquíssimo tempo o PCC se tornou uma quadrilha muito maior e mais perigosa." Aos poucos, a facção foi achatando a estrutura piramidal e se dividindo em células.
De acordo com o Ministério Público, Marcola ainda é o número 1 e Júlio César Guedes de Moraes, o "Julinho Carambola", é o seu homem de confiança. Outros bandidos, cerca de dez, formam uma espécie de "conselho de administração". Grandes decisões, como assassinatos e ataques, têm de ser tomadas por esse conselho. Ações cotidianas da criminalidade, não.

Embora o PCC tenha nascido como um sindicato, com a intenção de defender os direitos dos detentos, a gestão de Marcola mudou o rumo da facção. Atualmente, o objetivo primordial do grupo é ganhar dinheiro. Estima-se que, entre 2005 e 2008, o faturamento do PCC tenha quadruplicado. No ano passado, a arrecadação mensal chegou a R$ 5 milhões. A facção domina o tráfico de entorpecentes nas cadeias paulistas. Nas ruas, quem quer vender drogas tem de comprá-las do PCC ou pagar um "aluguel" para continuar dono da boca. Os bandidos batizados pelos líderes e os simpatizantes costumam pagar mensalidades. Outros organizam rifas de bens valiosos, como casas e automóveis, para arrecadar dinheiro. Se o PCC fosse uma empresa, certamente estaria nessas listas de companhias de sucesso. Marcola tem se mostrado um empreendedor. Pena que tenha investido no crime.
Quem conhece Marcola afirma que ele não age como chefe. Não precisa. Marcola não é um ditador. Costuma ouvir opiniões alheias e raramente perde a compostura. Quando fala, tem o poder de convencer os companheiros. É eficiente na arte da persuasão, um verdadeiro líder. E faz o tipo intelectual
- carrega a fama de ter lido cerca de três mil livros. 
Durante um depoimento, em junho de 2006, os integrantes da CPI do Tráfico de Armas se interessaram em investigar as preferências de Marcola.
. - Seu preferido é qual?, questionou o então deputado Neucimar Fraga.
- "Assim falou Zaratustra".
- Assim falou...
- Zaratustra.
- Nietzsche?, interveio o deputado Paulo Pimenta.
- Nietzsche.
Além do alemão Friedrich Nietzsche, obras dos pensadores franceses Voltaire e Victor Hugo e do escritor russo Fiodor Dostoievski, cuja temporada de quatro anos na prisão inspirou o clássico "Recordações da Casa dos Mortos", fazem parte do repertório de Marcola. 
Um feito e tanto para um órfão de pai e mãe, que abandonou a escola na quarta série, viveu na rua e se tornou criminoso nos primeiros anos da adolescência. O gosto de Marcola pela leitura emergiu depois de extensas e repetidas consultas ao Código Penal. No início do relacionamento, Marcola pedia para a primeira mulher, a advogada Ana, levar livros de direito para que ele se distraísse na cadeia.

Marcola está condenado a 40 anos de prisão por roubo. Na próxima semana, pela primeira vez, deve ser julgado por homicídio. 
Ele é acusado de ter mandado matar Antonio José Machado Dias, juiz-corregedor de Presidente Prudente, no oeste paulista, em 2003.
O magistrado teria sido escolhido por ser rígido demais com os presos e como um símbolo para escancarar o poder da facção, já que os homens fortes do PCC estavam sob a sua jurisdição. Marcola nega ter participado do crime. 
Diz que a ordem partiu de José Eduardo Moura da Silva, o "Bandejão", um ex-aliado assassinado na cadeia dois meses depois da execução de Machado Dias. O promotor Carlos Talarico, que trabalha no caso, garante ter uma coleção de provas contra Marcola. "Ele vai tomar um toco, 30 anos", diz Talarico. "Essa será a primeira condenação de Marcola como líder do PCC. E representará o reconhecimento do Estado de que ele está à frente da facção."
Os problemas de Marcola com a Justiça não devem terminar por aí. Ele responde a outros cinco processos por homicídio alguns cometidos durante os ataques em São Paulo, em 2006 - e crimes como sequestro e formação de quadrilha.
Quatro criminosos ligados ao PCC já foram condenados pela morte de Machado Dias. Julinho Carambola, o principal aliado do número 1, pegou 29 anos de prisão no mês passado. Se Marcola for considerado culpado por esse assassinato, como líder do PCC, a tendência é de que também seja condenado nos outros casos em que é acusado de comandar a facção. A perspectiva de permanecer encarcerado, no mínimo, durante as próximas duas décadas pode enfurecê-lo. Por enquanto, Marcola tem mantido a costumeira discrição. Continua confinado numa penitenciária em Presidente Venceslau, no interior do Estado, lendo e à assistindo tevê. Na cela número 107.

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° Edição:  2087 |  18.Nov.09  
Atualizado em 08.Jul.14