MORTE BRUTAL DE TRAVESTI DENTRO DE
AGÊNCIA DE CORREIOS EM TAGUATINGA SUL, FAZ POLICIA CIVIL DESCOBRIR ESQUEMA DE EXPLORAÇÃO
E CAFETINAGEM EM PONTOS DE PROSTITUIÇÃO NAQUELA ÁREA.
A investigação
sobre a morte brutal de uma travesti levou a Polícia Civil a um grande esquema
de prostituição que ocorre nas ruas, motéis e casas do Setor de Indústrias de
Taguatinga Sul. Esfaqueada dezenas de vezes na tarde de 26 de janeiro deste
ano, Ágatha Lios, 23 anos, perdeu a vida tentando escapar da brutalidade de
seus algozes. O crime ocorreu dentro de uma central de distribuição dos
Correios, próximo ao local onde ela costumava fazer ponto.
Registrada como
Wilson Julio Suzuki Júnior, Ágatha foi executada a golpes de facão. Filmado
pelas câmeras de segurança, o assassinato, segundo testemunhas, foi motivado
por inveja, vingança e disputa por ponto de prostituição.
Nos últimos
cinco meses, a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação
Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com
Deficiência (Decrin) investiga a barbárie. Os policiais conseguiram identificar
quem são as quatro travestis que invadiram os Correios e esfaquearam a vítima
até a morte. Todas tiveram mandados de prisão expedidos pela Justiça e são
consideradas foragidas.
“Donos” da rua
Ágatha era
considerada uma ameaça para outras travestis porque chamava atenção dos
clientes por sua beleza. Além disso, a vítima teria se recusado a abandonar o
DF e permanecia fazendo programas sexuais na região de Taguatinga Sul,
incomodando a concorrência.
Como se não
bastasse, a vítima teria ameaçado um de seus algozes poucos dias antes. Segundo
as investigações, o desentendimento ocorreu com Lohanny, após a travesti
assaltar um motorista de Uber. A discussão, por meio do WhatsApp, terminou com
ameaças. Lohanny enviou mensagem afirmando que seu marido mataria Ágatha. O
companheiro seria Bruna, outra travesti envolvida no homicídio.
O assassinato
investigado pela Decrin acabou revelando a briga por pontos de prostituição que
existe nas ruas do Setor de Indústrias de Taguatinga Sul. As vias são
comandadas por cafetões que cobram uma espécie de pedágio de quem quer se
prostituir no local. Por dia, cada travesti desembolsa entre R$ 50 e R$ 100
para ocupar um ponto. Caso se recuse, pode sofrer retaliações de todo o tipo,
desde assaltos, passando por espancamentos, até assassinatos.
O Metrópoles
percorreu todas as ruas da região por onde Ágatha se prostituía. Mesmo cinco
meses após o crime, o clima entre travestis e garotas de programa permanece
tenso. Poucas profissionais do sexo aceitam falar abertamente sobre o caso. Uma
delas, que resolveu quebrar o silêncio, contou à reportagem que conhecia a
travesti assassinada e confirmou que é preciso pagar para fazer programas no
local.
“Realmente ela
era uma travesti muito bonita e chamava atenção. Acabava atraindo os clientes
mais ricos. Ela também pagava para fazer o ponto. A Ágatha morreu por ter
atiçado a inveja de outras travestis e por não querer abandonar o ponto que
ocupava”, disse. Código de conduta
No decorrer da
investigação, os policiais descobriram que existe uma espécie de código de
conduta violento entre as travestis. Para serem respeitadas, elas precisam ter
esfaqueado alguém, cometido pelo menos um assalto e participado de uma sessão
de espancamento. Nem todas pactuam com as regras e acabam se indispondo com
outras. Foi o caso de Ágatha, que repreendeu uma de suas assassinas após o
assalto a um motorista de Uber.
De acordo com a
chefe da Decrin, delegada Gláucia Cristina de Souza, a inveja foi o principal
motivo do ataque de fúria das travestis contra Ágatha. O crime, inclusive,
teria sido premeditado. “Elas utilizaram um veículo do Uber para ir até ao
local onde a vítima estava. Quando percebeu que seria atacada, ela fugiu para
dentro da central de distribuição dos Correios, mas não conseguiu escapar.
Estamos procurando as quatro autoras para cumprir os mandados de prisão”,
explicou.
Testemunhas
ouvidas na delegacia afirmaram à polícia que, após o assassinato, as travestis
ainda pegaram todos os pertences que Ágatha mantinha na república onde morava.
Foram levadas roupas, perfumes e a bolsa que ela deixou na rua após começar a
fugir das assassinas.
Morte anunciada
Os depoimentos
de carteiros e outros funcionários dos Correios foram essenciais para detalhar
o ódio e o requintes de crueldade do assassinato. Um dos servidores contou ter
visto a vítima encurralada entre os carrinhos usados para transportar material.
Ele tentou se aproximar, mas foi atingido com um golpe de faca na perna por uma
das autoras. O carteiro chegou a ouvir uma das travestis dizer: “Eu te avisei
que te matava e falei pra não mexer com minhas filhas”.
Outro servidor
relatou ter visto a vítima gritar de forma desesperada por ajuda enquanto
corria e era perseguida pelas quatro travestis – duas estavam armadas com
facões e outras duas seguravam facas do tipo peixeira. Uma das acusadas
decretou: “Não adianta correr, não, hoje você morre”. A testemunha tentou ainda
segurar a mão de uma das assassinas de forma a impedir que ela golpeasse a
vítima, mas não conseguiu conter os ataques.
República
Natural de Porto
Velho (RO), Ágatha costumava viajar o Brasil atrás de novos clientes. Antes de
desembarcar em Brasília, no fim do ano passado, havia trabalhado em Cuiabá
(MT), Porto Alegre (RS) e Caxias do Sul (RS), Rio de Janeiro, São Paulo,
Balneário Camboriú (SC) e Florianópolis (SC). No DF, Ágatha se hospedou em uma
casa que funciona como uma república apenas para travestis.
A residência,
localizada na QSF 11, em Taguatinga Sul, também hospedava as quatro acusadas
pelo assassinato. Por algum tempo, a vítima permaneceu na casa, mas logo se
mudou para outro imóvel, no Plano Piloto. Os policiais também identificaram que
há repúblicas ocupadas por travestis em outras regiões do DF, como Riacho Fundo
e Ceilândia.
A reportagem foi
até a república onde Ágatha morou. Cercada por grades nos dois pavimentos, a
residência ainda conta com tapumes que bloqueiam a visão de todo o térreo da
casa. No segundo andar, vidros fumês também evitam os olhares curiosos. Câmeras
foram instaladas ao redor para registrar a movimentação da rua.
Triste
estatística
A morte violenta
de Ágatha é uma entre tantas a vitimar uma população que vem sendo alvo de
crimes de ódio. Monitoramento da Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil (Rede
Trans Brasil) aponta que, nos últimos cinco anos, 21 travestis foram
assassinadas no DF, seis delas apenas em 2016.
Segundo outro
levantamento, do Grupo Gay da Bahia (GGB), mais antiga associação de defesa dos
homossexuais e transexuais do Brasil, 2016 foi o ano com o maior número de
assassinatos da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) desde
o início da pesquisa, há 37 anos. Foram 347 mortes em todo o país somente no
ano passado.
A pergunta é: todo mundo sabe, todo mundo vê aquela
movimentação ali no setor QSF, o dia todo, o mês todo, o ano inteiro! Onde está
o "Império da Lei e da Ordem, a tal Justiça e Policia, junto com a
mega-ultra biliardária estrutura da inútil Secretária de Segurança que troca de
secretários duas vezes por ano, que nada fazem para acabar com aquele parque de
diversões sexuais, drogas e crimes? Me engana 'donas autoridades', me
enganem...